sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mestre

Sou praticante de artes marciais desde criança. É orgânico, visceral em mim; respiro e vivo isso, e todo mundo sabe. Sou dessas que anda de kimono (preto) pela rua, como se fosse a coisa mais normal do mundo (pra mim, na verdade, é).
Dia desses recebi em casa um envelope dourado, lindo de morrer. Nele havia um bilhete contendo apenas um endereço e, embora não soubesse exatamente onde ficava nem o que iria fazer lá, sentia em mim que esse seria o último lugar que veria na vida. Não sei nem como explicar, mas a sensação era muito clara: eu ia morrer.
Saí pra beber naquela noite e me despedir dos amigos, que eram minha família, já que eu não tinha uma (não faço ideia do que aconteceu com todo mundo, mas eu era uma pessoa sozinha) e não contei pra ninguém o que faria nos próximos dias.
Me preparei bastante durante a próxima semana, coloquei algumas coisas dentro duma pequena mochila e parti. Quando cheguei no endereço me sentia ansiosa e apreensiva. Toquei a campainha de uma porta preta, que se abriu sozinha.
Andei por um corredor estreito e muito escuro até chegar numa espécie de pedreira. Não sei descrevê-la muito bem mas era um grande espaço aberto, cercado por enormes paredes de pedra, como se fosse uma arena, o chão era de cascalho e uma poeira muito leve pairava no ar. Fiquei paralisada olhando ao redor, sem saber exatamente o que fazer quando, de repente, as paredes começaram a se desfazer: blocos de pedras voavam em minha direção e eu só conseguia correr já que não havia um lugar sequer para eu me esconder. Quando dei por mim, percebi que as paredes estavam mudando de forma. Era como se alguém as estivesse esculpindo. Os desenhos se formavam como que por mágica diante dos meus olhos e eu ali,  paralisada, encantada, abismada com tudo aquilo. Águias, dragões, grandes falcões, muitas, muitas aves gigantes e carrancas enormes brotavam das paredes, até que, do nada, o rosto de um índio apache saltou no meio de todas as outras figuras. Ele piscava e pronunciava palavras sem som mas que eu podia perfeitamente entender (pena que não me lembro exatamente do discurso). O tempo passava de uma forma diferente ali dentro e não sei dizer quanto tempo durou tudo isso, só sei dizer que, logo após essa sucessão de eventos, a boca do índio se abriu e de lá saiu, voando, o Mestre que havia me mandado o envelope.
Quando olhei pra ele tive ainda mais certeza de que ia morrer. Ele veio pairando lentamente em minha direção, tirou sua katana da bainha e iniciamos uma luta, com o único detalhe de que eu não tinha uma katana.
Enquanto lutávamos os animais da parede se moviam e faziam barulhos ensurdecedores. Era difícil manter-se concentrada. Não me lembro muito bem da luta em si, se me machuquei, se senti dor, nada disso, me lembro apenas que, do nada, parei pra tomar água (oi?) porque eu estava com uma sede descomunal. Quando voltei pra luta o Mestre não tinha mais a katana e sim uma pistola. Ou seja, não era mais luta. 
Ele puxou o gatilho e eu não me lembro de mais nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário